quinta-feira, 25 de abril de 2013

Conquistar ou destruir?

           
Dia 02 de Fevereiro eu havia assistido a um certo documentário e me veio a ideia de fazer a seguinte pergunta no Formspring: " 'O poder não é para ser conquistado, ele tem que ser destruído.' O que acha dessa afirmação?" Recebi algumas respostas com opiniões variadas e as três que melhor representaram (ou mesmo que foram) essas variações foram as seguintes:

Resposta 1: Lord Robert (@H4wrt)
O poder tem que ser descentralizado.

Resposta 2: César Miranda (@cesarmiranda)
O poder é uma coisa natural e necessária. O que ele tem é que ser transitório e limitado.

Resposta 3: Ernesto Von Rückert (@wolfedler)
Muito boa. Concordo plenamente. Uma sociedade só será civilizada quando ninguém tiver poder sobre ninguém, quando todos forem iguais e todas as tarefas forem realizadas por um sistema de coordenação consensual. Isto é, não há chefia, nem direção nem governo, mas grupos de pessoas para fazer algum serviço que escolhem, dentre elas, o coordenador dos esforços. Poder, governo, estado, propriedade, dinheiro e esse tipo de coisa são a causa da desarmonia social e de infelicidade para as pessoas, dentre outras, é claro. A ideia de competir e vencer é uma ideia nefasta e prejudicial. O bom é colaborar para que todos alcancem o sucesso de se superarem e conseguirem o que almejam, sem ter que ninguém ser vencedor e ninguém ser vencido. Assim também ninguém deve ser o detentor do poder. Se ele existir, que seja destruído e não mais atribuído* a ninguém. Isso tem que ser alcançado por um processo educativo e de conscientização para eliminar totalmente a cobiça e a preguiça.


Eu tenho uma certa inclinação ao Anarquismo, porém tenho grandes dúvidas e nenhuma certeza de efetividade, então resolvi tirar uma das minhas dúvidas em relação a essa filosofia política com o autor da terceira resposta.


Pergunta: Ernesto, numa sociedade anarquista qual seria o critério utilizado para dizer que uma pessoa X vai ficar com um trabalho mais pesado e uma pessoa Y vai ficar com um mais leve? E se a pessoa X se recusasse a fazer o trabalho pesado por achar injusto?

Resposta: O critério é o acordo e o consenso. Se ninguém quiser fazer algum trabalho ele, simplesmente, ficará sem ser feito. Então, quem sentir necessidade dele, o fará, pelo menos para si. Simples. Mas se todo mundo for educado e sensato, como tem que ser, concluirá que há trabalhos duros ou enjoados que precisam ser feitos. Então é só estabelecer um sistema de rodízio, de modo a não prejudicar ninguém. Tudo sendo comunitário fica fácil, porque não há residências monofamiliares. Todo mundo moraria em algum tipo de "Apart Hotel", com todas as facilidades compartilhem e executadas em sistema de rodízio, como cozinha, lavanderia, zeladoria, refeitório, ambulatório, creche, sala de TV, de som, de cinema, de jogos, de ginástica, quadras de esportes, biblioteca, salas de estudo, salas de conversa, tudo compartilhado por um grupo de umas cem pessoas que morariam num prédio. Não é preciso haver empregados. Todos dividem os serviços. Quanto às empresas, elas também seria geridas comunitariamente, de modo que serviços como faxina, seriam feitos por todos, em rodízio. Não precisam haver faxineiros, lixeiros, porteiros e outros serviçais do tipo. Todo mundo pode fazer isso, cada um no seu plantão, seja quem for.



Na minha opinião, o poder já foi descentralizado na época do Feudalismo e isso não nos rendeu nada de muito bom. Entretanto, o comunismo, que é muito interessante na teoria, também não deu muito certo, justamente por ter havido grandes desvios na prática, o que acontece ao considerarmos o caráter nem sempre íntegro do homem. E isso é o que me desanima em relação ao Anarquismo, para ele acontecer como desejado é necessária uma conduta muito boa por parte das pessoas, como podemos perceber na resposta anterior dada por Ernesto.

Penso também que talvez não importe se existem pessoas com muito boas intenções e pessoas com más intenções, pois o poder (principalmente político e em grande escala) acaba por unificá-las por bem ou por mal, com raríssimas exceções. Além deste poder muitas vezes alimentar o lado ganancioso e aproveitador da pessoa, mesmo que ela tenha intenções retas, seu corrompimento pode ser facilitado pelos indivíduos ao redor dela, que em sua maioria já estão corrompidos. Se "uma ovelha ruim, põe um rebanho a perder" o uma rebanho ruim não faz com uma ovelha?

Antes de pensar em mudar ou destruir o poder, deve-se pensar em mudar (e não destruir) a nós mesmos, em  mudar a sociedade, as pessoas que a compõe [e estar ciente de que essa mudança pode começar em uma geração, mas provavelmente só estar completa em uma outra bem distante]. Uma vez que isso esteja feito, qualquer tipo de governo ou mesmo a ausência dele, se aceitos, dariam certo. E essa escolha não seria mais feita em relação ao que pode ser efetivo ou não, mas por preferência da população, que seria esclarecida o bastante para escolher o que parece melhor.
E você? Qual a sua opinião sobre o assunto? Não deixe de compartilhá-la com a gente.

Documentário sobre a servidão moderna:

Documentário citado no começo do post.

O.B.S.: A tag OnFormspring foi mudada para Speech Bubble (Balão de diálogo), pois talvez precisemos abranger os locais nos quais podemos fazer perguntas e pegar respostas. Estes locais, no entanto, não serão mais fixos.

Relacionados:
Altos, médios e baixos.

3 comentários :

  1. Poderia escrever um livro (aliás, escreveram muitos) sobre isso.

    Em primeiro lugar, nunca tivemos na história pós período moderno da humanidade uma sociedade comunista, cujas principais características fundamentais são: (I) a extinção das classes e (II) o fim do Capital (cada uma destas categorias, merecia mais uns dois parágrafos. Mas vou me conter). O que tivemos foram medidas de cunho socialistas, que copiaram o modelo soviético de 1917. Podemos citar China e Cuba que se apresentam (ou será que é o que a mídia diz?) como regimes comunistas... Mas, nunca foi desta forma que os revolucionários pensaram no comunismo.

    Sobre o poder, concordo com o colega anarquista. Contudo, ressalto que muito mais importante do que pensar como deve ser uma nova sociedade, é pensar em como chegaremos a ela, ou seja, na transição. O que devemos fazer para sair do atual estado da sociedade para o que entendemos ser melhor?

    ai, desculpa o comentário enorme.... Eu me empolgo com o tema.

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  2. De fato, a anarquia não pode ser imposta. Tem que ser atingida de forma espontânea. E isso levará vários séculos. Ela não é um meio para se obter uma sociedade ideal. Ela é a culminância da obtenção desse ideal. E como atingí-lo? O socialismo se mostrou um péssimo caminho para o comunismo e, de fato, o seu grande defeito foi tornar todos empregados de um único patrão: o governo. A solução não é acabar com os patrões mas acabar com os empregados, tornando todos patrões. Isso pode ser feito pela pulverização total do capital de modo que todos sejam proprietários dos empreendimentos em que trabalhem. E pelo estabelecimento de um modelo de gestão compartilhada. Paralelamente se tomariam medidas que promovessem o bem estar sem a necessidade do dinheiro, como projetos comunitários e cooperativos de educação, produção de alimentos, administração municipal. Outro caminho para a anarquia é a vivência comunitária, sem residências individuais, como descrevi. Isso tudo tem que ir mudando aos poucos até que o dinheiro, a propriedade, o governo, a polícia, as fronteiras deixem de existir espontaneamente por absoluta falta de necessidade.

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    1. Bem, não podia deixar de responder; porque discordo de vários pontos.

      Primeiro, o que é este "espontâneo"? O dono da fábrica vai resolver deixar sua fábrica de lado? O latifundiário vai, de boa vontade, entregar a sua terra? Os marxistas defendem o socialismo como transição ao comunismo por entenderem que, no capitalismo, nem todas as condições para se chegar ao comunismo estão completamente maduras. Algumas coisas precisam deixar de existir antes, como o Capital e a propriedade privada.

      Segundo, nossas experiências socialistas fracassaram porque seguiram o modelo soviético a partir de 1927-1929... Até antes disto, basta ler um pouco a história para perceber como foi maravilhoso o período entre 1921-1927. Não vou discutir o porque deste detalhes, mas o argumento de que o socialismo fracassou é falso. Simplesmente porque nunca o experimentamos como um todo.

      Terceiro, como será engendrada essa "falta de necessidade"? Ora, a falta de necessidade surge do desuso. Como já disse, ninguém vai abrir mão do seu lucro para repartir com os demais, muito menos de suas demais propriedades. Por isso, neste momento, a existência de um governo (gerido por trabalhadores) que "repartam o bolo" é importante: com ele se acabará com a propriedade privada e com o Capital.

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