domingo, 11 de agosto de 2013

Sociedade das vítimas "algozes"

Eu tentei começar explicando a ideia principal do post de hoje, mas acho que uma resposta que dei certa vez no Ask esclarece melhor meu ponto, então começarei com ela.

Vagões exclusivos para mulheres no metrô: o que pensa sobre?‎  
(Matheus Dantas)
Penso que: não. Em vez de criar métodos para combater a consequência é preciso combater a causa. A nossa sociedade faz muito isso, foca absurdamente em prevenir (uma prova de que isso existe e é intenso é quando começam a culpar aquele que não se preveniu e não o que cometeu o ato) e muito pouco em combater a causa da coisa, pelo contrário, a ação continua a ser entendida como errada, porém normal, imutável e, então, quem tem que mudar são as coisas ao seu redor, o que é inaceitável.

Nossa sociedade faz das vítimas também algozes no momento em que essas vítimas são vistas como se fossem os próprios executores do delito quando não se previnem. Pior que esse julgamento são todas as atitudes que são tomadas (como, por exemplo, imposição de regras) com o propósito de fazer com que as precauções sejam tomadas e no fato de que nada é feito no sentido de combater o problema diretamente, de combater o verdadeiro carrasco da situação, combater aquele que comete o delito.


Tomei consciência dessa questão faz um tempo e desde então ela tem me incomodado, mas o que engendrou minha vontade de escrever sobre foi um post chamado "Slut-shaming despercebido" que tem como ponto de discussão central uma famosa regra escolar: Proibida a utilização de shorts curtos pelas meninas.


"Mas o que mais me perturba é como, mesmo sendo uma escola moderna (leia-se: existindo no século XXI) e tendo o poder de mudar o pensamento de seus estudantes, ela preferiu fazer uma regra baseada em ideias machistas da nossa sociedade – vincular o valor de uma mulher e o respeito que ela merece com a roupa que ela usa, tratar o corpo feminino como um pecado (considerando que o nosso corpo é o único que, segundo eles, precisa ser coberto para evitar possíveis “distrações” dos pobres, incontroláveis garotos), etc – a discutir os valores morais dos adolescentes que ali estudam, ensinando-os a tratar toda e qualquer mulher com respeito, independentemente da roupa que usam." ("Slut-shaming despercebido", Bárbara)


Eu já passei por isso na escola e esse post me fez pensar: Por que diabos as garotas precisam esconder seus corpos para não tirar a atenção dos púberes? Em vez disso alguma instrução deveria ser dada aos garotos, desde pequenos, se necessário. "Ah, mas a questão é que o desejo dos garotos é biológico, eles não podem se controlar" hehe. Gente, biologicamente (only) nós seriamos um bando de animais vivendo sem significado, fazendo sexo somente por reprodução, como as libélulas daquele documentário da TV; mas a cultura nos distanciou do "animal" do "puramente biológico", graças a esse "aparato extraorgânico" nós mudamos e demos diversos significados às coisas, criamos regras, limites, sentimentos, criamos vários desejos e banimos outros, agora não venham me dizem que não podemos mudar tal coisa porque ela é ~natural~ do ser humano, como animal que ele é, porque isso não cola.

Sobre a questão do estupro: A culpa é do estuprador, sim, e somente dele! O que deve ser expurgado é tudo aquilo que dá suporte ao estupro, como a cultura do estupro e a ideia de que a mulher é propriedade privada do homem, não a roupa supostamente ""provocante"", os shows, o determinado horário, a determinada rua. "Ah, mas enquanto essas coisas não mudam o jeito é se prevenir" Enquanto essas coisas não mudam o jeito é trabalhar pra que elas mudem, mas a única coisa que vejo são regras e mais regras de prevenção e NADA ou quase NADA combatendo a raiz da questão.

Eu quero o direito de ir e vir e não o dever de nem ir para não correr o risco de não vir.

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