domingo, 4 de agosto de 2013

No salão de espelhos, espalho os meus rostos




Provador de loja é quase um confessionário. Só que melhor, mais bem iluminado e mais convidativo. Toda vez que entro em um provador, meu corpo começa a apresentar reações adversas, penso que começo a transpirar excessivamente, misteriosamente fico mais peituda e baixinha, parece que engordo uns cinco quilos na frente daquele espelho e que só uma esteticista "doutorada" poderia salvar minha pele.  Por todos os lados existem fotos de mulheres bonitas (bonitas mesmo?) e você lá miscigenação pura de frente para o espelho excessivamente bem iluminado e absolutamente escandaloso. Não é incomum ouvir nesses espaços as conversas sobre o desejo de emagrecer e tamanho de partes variadas do corpo.

Valeska Popozuda (Foto: Marcos Serra Lima/ EGO)
Keep Calm deixe de recalque, como diria a diva Valesca.

E qual é o problema em querer ser bonita? Ser magérrima? Ou ter curvas acentuadíssimas? Bom o problema é que a mulher perfeita que esperam que sejamos não existe, o padrão de beleza que oprime os nossos corpos não aponta para uma mulher real, e sim para um conjunto de fantasias acerca do que deveríamos ser. Somos? Quase nunca. Podemos ser? Absolutamente não.
Não podemos, porque seja lá o que formos ainda assim será insuficiente, e é importante que seja insuficiente porque é a insuficiência dos nossos corpos que vende, promove e articula milhares e bilhares de notinhas verdes de valor imaginários todos os anos. O discurso ideológico que abraça os corpos é poderosíssimo e machuca. Ceifa cirurgicamente milhares de mulheres todos os anos. E funciona, porque nós acreditamos e compramos.

Foto de divulgação da campanha "Real Beleza"

E naquele espaço do provador, excessiva e estrategicamente iluminado. Aquele espaço com grandes espelhos e fotos por todos os lados, guarda um verdade "santamarense" que pode ser absolutamente sublimada pela imagem, pois está para além desta: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é".

3 comentários :

  1. Me assumo, ser magricela é massa.

    Ótimo texto, hihi :3

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  2. Olá, gostei do texto e também nesse dilema do que nos vendem - o cult ao corpo. Ou como Mosé diz -culto à imagem do corpo. Escrevi um texto sobre isso tb e parte dele foi publicado nesse blog:(http://tyengo.blogspot.com.br/2013/07/tarja-preta-beleza-que-se-poe-mesa.html#comment-form) e em um dos comentários me indicaram um vídeo da Mosé no café filosófico. É muito bom o vídeo: (http://www.youtube.com/watch?v=oE3aoW2xp4w). Que continuemos nos indignando.

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  3. É a lógica capitalista que define o ideal de beleza, que é infelizmente naturalizado por muitos de nós. Em épocas, onde comer bem era para poucos e afortunados, estar acima do peso era sinal de saúde e beleza. Agora, onde carboidratos são baratos e acessíveis e comidas lights e "magras" exibem seus preços exorbitantes, ser magérrimo e malhado é o ápice da vez. Mas não só isso, muitas pessoas não conseguem manter um estilo de vida "saudável", o que é óbvio, já que a intenção do nosso sistema é nos adoecer - oferecer todos os subsídios para que isso ocorra -, enquanto nos manda mensagens claras de um padrão de vida diferente do que ele nos oferta, fazendo-nos acreditar que a culpa é nossa ou dos outros por serem ou estarem como estão - anoréxicos, bulímicos, obesos mórbidos, fãs de cirurgias plásticas e tratamentos estéticos invasivos -, para assim recorrermos com nosso precioso dinheiro suado à indústria farmacêutica e estética e encher os cofres das empresas privadas. Vivemos em uma sociedade onde apenas os sortudos de bom metabolismo e fenotipicamente europeus ou onde os aficionados por uma perfeição estética se submetem à todo tipo de tratamento absurdo para estar dentro de um padrão - que não ingenuamente não é compatível com a maior parte da população da nossa sociedade - são considerados bonitos e saudáveis. Lucra, portanto, as indústrias farmacêuticas, as indústrias de cosméticos e as clínicas de estéticas, que faturam milhões por anos ao tentarem tornar seres humanos naturalmente distintos em uma mesma coisa artificial e forçada. Magreza não é sinônimo de saúde é sinônimo - exceto para as naturalmente magras - de muito dinheiro e investimento psíquico, emocional e físico. Felizmente, existem mulheres que preferem investir suas vidas em outras coisas que não seguir os padrões doentios de um sistema desumano, que desrespeita a diversidade de biótipos e que é movido apenas em função do lucro monetário e são felizes como são. Abaixo padrões doentios e desumanos de beleza! E sejamos felizes como somos e deixemos os outros serem felizes como quiserem/puderem ser. Parabéns pelo texto!

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