sábado, 18 de janeiro de 2014

Todo o resto

"Todo o resto é o que ninguém aplaude e ninguém vaia porque ninguém vê." Martha Medeiros.
E a música "Só as mães são felizes" do Cazuza.
Esse texto começa dessas duas leituras, desse fragmento e dessa música. Para pensarmos nos outros dos outros, eu vejo o futuro repetir o passado? Eu vejo um museu de grandes novidades? Não vejo. Não porque estou cega, mas porque a experiência é sempre complexa e nova. O futuro antes de falar do passado fala de alguém, de alguns, de passados.

Explodiu na internet montagens com fotos épicas associadas ao rolezinho apontando a semelhança entre o antes e o agora, mas isso que está agora é algo totalmente novo, é uma verdade do passado, e não seria tal como é sem ele, mas é também uma verdade futura e antes disso uma verdade de outras várias verdades dos rolezeiros. É feita do relato do garoto que é parado pelo policial e por um garoto ali dentro que talvez seja filho de policial, é feito da verdade cotidiana de quem detém o poder, é feito da verdade interpretativa dos que pensam sobre esse fenômeno. Aliás só pensar isso enquanto fenômeno, talvez já seja motivo de incômodo para muitos. Por causa dos passados que ali habitam, e também pelos agoras...
Os meus passados voltam para me assombrar em domingos ensolarados, descobri com certo choque que minha sobrinha foi agredida moralmente na escola porque eu sou lésbica. A minha vida privada não tem nenhuma relevância aqui, mas eu também fui agredida na escola por isso. É a mesma coisa? Certamente não, é algo totalmente novo. E totalmente velho, mas não é equivalente porque somos pessoas outras.

Daí a música do Cazuza, para pensar as experiências individuais e compartilhadas socialmente. E as que se estabelecem socialmente mas tem uma implicação diferente para cada um. E esse é o todo resto, que ninguém aplaude e ninguém vaia porque nós silenciamos em nós e por isso ninguém vê. São os nossos motivos para supor que as nossas mães são mais felizes que nós, outro equívoco. 

E é nesse espaço do todo o resto que se constroem as militâncias, as crenças, as preces e as presas. É no todo o resto que somos quem realmente somos e somos ninguém, também.

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