sábado, 25 de janeiro de 2014

Família ê, família a: Família?

      A invenção da família, junto com a propriedade privada, a privatização das bucetas e dos filhos e das terras e de tudo que é frutífero - como as vidas - é uma invenção que encarcera pessoas através de vários períodos históricos, porque foi uma invenção tão boa para os opressores que ela foi reproduzida em diferentes sistemas políticos e econômicos. Pelo simples fato dela funcionar como instrumento de apoderação, apoderação do masculino sobre o feminino, apoderação étnica, apoderação de classe. Ensinam-nos desde pequenos a respeitar e honrar nossos familiares, mas o que isso realmente significa? O que realmente está implicado nesse processo de criar vínculos afetivos, baseados em vínculos consanguíneos?
      Não estou aqui para falar mal das múltiplas configurações familiares atuais, funcionais, estou aqui para falar do modelo de família hegemônico, da alegoria familiar e do seu potencial para institucionalizar os corpos. Antes das outras instituições, a família é que primeiro nos digere. É no seio familiar que aprendemos a sentar como moça, falar como homem, se comportar como uma mocinha, não chorar como uma mocinha.

       Reunimo-nos em torno de mesas diversas, ano após ano, celebrando famílias quebradas, desconhecidos vinculados simbolicamente, tudo baseado numa moral cristã falida. Lembro-me de sempre pensar quando criança: “Por que a gente tem que amar essas pessoas só por sermos da mesma família?". Não temos - hoje eu sei - mas podemos se quisermos. É a obrigatoriedade da organização familiar que deveria ser pensada mais criticamente.
        As famílias, e sua organização anacrônica e obrigatória, podem causar mais danos do que benefícios. Não é a toa que a Psicanálise vende tão bem na nossa sociedade. A Psicanálise também compra o discurso familiar, e também vende. Faz parte de uma organização social de época o agrupamento familiar e que por pertencer a sociedade, também é um discurso de poder e - principalmente - apoderação. Não estou aqui depondo contra a necessidade, até evolutiva, para quem gosta de olhar as coisas desse prisma, de estarmos cercados de gente, de criamos laços afetivos, somos seres sociais, é verdade. O que nós não podemos ignorar é que somos também seres políticos e somos envolvidos por discursos de poder, que não dando liberdades reais a ninguém, cerceia mais a uns do que a outros.



Família é quem você escolhe pra viver, família é quem você escolhe pra você.  Não precisa ter conta sanguínea, é preciso sempre um pouco mais de sintonia. 

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