terça-feira, 19 de novembro de 2013

A moral veste crueldade

Dia 10 de novembro de 2013, na cidade de Parnaíba, Julia Rebeca cometeu suicídio por não conseguir viver com e suportar a chacota e desmoralização promovida pelas pessoas por conta de um vídeo íntimo dela que foi divulgado no WhatsApp.


Uma das mensagens postadas no twitter antes do suicídio de Julia

Dia 14, quando li uma matéria sobre isso e algumas outras relacionadas (cujos links estarão espalhados pelo post) escrevi uma espécie de apelo e sermão no facebook, como que pra colocar a revolta pra fora e tentar alertar as pessoas sobre o comportamento machista delas, mas ainda assim resolvi fazer esse post para que a mensagem seja pertinente e, agora, mais completa e rebuscada.

Bom, não sei qual o impacto que essa notícia provoca em vocês, mas ela deveria ser revoltante. Me revolta imaginar que toda a vida em potencial que Julia tinha pela frente foi destruída por um pensamento mesquinho e nojento, defendido por pessoas também mesquinhas e nojentas que se acham no direito de dizer o que é correto ou não alguém fazer com a própria vida, algo que nem de longe lhes diz respeito.

Fran é uma outra menina que teve um vídeo íntimo divulgado pelo WhatsApp sem seu consentimento e teve sua vida massacrada por isso. No vídeo em questão ela faz um sinal de "OK" com as mãos e as pessoas se juntaram pela internet tirando fotos fazendo o mesmo sinal para caçoar da menina. Que atitude linda, estou tão orgulhosa de vocês!

Julia e Fran representam várias outras garotas que passaram pela mesma situação e que, coitadas!, muitas vezes culpavam a si mesmas e realmente achavam que eram mulheres horríveis por terem feito o que fizeram.

Eu defendo a seguinte premissa: Uma mulher não está errada por fazer sexo e, se isso se torna público, ela continua sem estar nem um pouco errada. Para mim, o erro está em quem desmoraliza a mesma por conta disso. Porém, eu não posso querer implantar na cabeça dos outros aquilo que eu acredito, as pessoas precisam chegar lá sozinhas, assim sendo, você tem todo o direito de acreditar no que quiser, mas não tem direito algum de estragar a vida de ninguém por conta do que você acredita, de querer impor as suas regras, a moral que você defende, na vida dos outros. Respeito e (aquela conhecida, mas tão negligenciada frase:) "cuidar da própria vida" já seriam bons o bastante pra mim. O problema é que hoje a felicidade dos outros está muitas vezes em diminuir uma outra pessoa pra que os mesmos se sintam melhor. E eu não preciso dizer o quanto isso é intragável, não é mesmo?

Outra questão muito importante é a seguinte: Em casos como esses, ninguém critica o homem, não importa em que posição ele esteja. Não sei se vocês sabem, mas sexo não se faz sozinha e, comumente, esses vídeos íntimos que são divulgados sem a permissão de todos envolvidos, sempre têm um homem no meio, que geralmente é quem expõe o vídeo, seja por vingança ou só por diversão. Bom, vamos para um exemplo recente. Sabe o vídeo que colocaram recentemente no youtube em que uma brasileira filma Justin Bieber (aqui no Brasil) dormindo? Então, se vocês forem olhar os comentário no vídeo, adivinhem quem as pessoas estão criticando? Justin por ter se deixado flagrar em um momento meio íntimo? Não, não. Só falaram mal de Justin Bieber quando foram homofóbicos, usando a homossexualidade como algo pejorativo (comentários que sempre perseguem o cantor).

Comentário ganhador do selo "como você é burro"
Tradução: Brasileiras são as mais putas, prostitutas, feias e vadias.
Resumindo, são prostitutas grátis que chupam pau o dia inteiro.

Porém se fosse Justin filmando uma mulher... Bom, adivinhem? O comentário acima ainda estaria lá, meus queridos. Porque não importa o que, quando ou onde, é mulher? É puta.

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