quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A Dama e o Vagabundo 2: Os vilões são mesmo vilões?


O segundo filme da sequência "A Dama e o Vagabundo" tem como personagem principal o filho do casal de cães que foi foco do primeiro filme, Banzé, que é muito sapeca e odeia coisas como tomar banho, não bagunçar, ser penteado, em resumo, ele não gosta de ser um cão doméstico, quer ser livre, viver sem fronteiras. Na música que é cantada por ele no começo do filme, adaptada para o português, vemos frases como:

   "Um mundo sem cercas, onde eu possa viver sempre livre..." 
   "Eu quero mais que um osso, (...) eu quero tudo aquilo que eu sei que eu posso." 
   "O mundo sem cercas é o que eu quero para mim."

Eu achei tudo muito bonito, até ver que essa atitude de Banzé seria severamente criticada pelo filme. Vagabundo era um cão como Banzé quer ser, vivia grandes aventuras, mas no final acabou se apaixonando, indo viver em uma casa com donos, tendo filhos e se domesticando, se tornando um cão dócil que vive inteiramente dentro das regras. Então, trazendo para as nossas vidas, o filme diz que devemos ser assim também: Nos casar, ter filhos e viver dentro das normas, assim e somente assim seremos felizes e bons.

Lindíssima a cena em que Dama e Vagabundo comem macarrão juntos, mas esse segundo filme me incomodou um pouco. Não digo que devemos fugir da nossa família, viver prejudicando os outros, sendo maus como o cão vilão que vive na rua é, até porque isso é adorno para demarcar quem é o vilão da história, em quem você não deve se espelhar. Mas só porque não constituímos família e não somos domesticados (no nosso caso, pela sociedade) não quer dizer que somos maus e seremos infelizes, pelo contrário, a liberdade é o modo mais pleno de felicidade e um mundo sem cercas é o que eu gostaria que todos pudéssemos ter.

Logo no começo do filme, quando Banzé fica preso na coleira por ter aprontado, o ex-grande-aventureiro Vagabundo chega a afirmar: "Acorrentá-lo foi o melhor que o querido (?) podia fazer pelo nosso filho." E logo depois: "(...) ele tem que aprender a seguir as regras da casa. A disciplina transforma um cãozinho num cão de verdade". Essa é uma das cenas em que claramente vemos a mensagem de que só dentro das regras morais é que se deve viver para ser correto, e a diciplina leva a esse caminho. Seria uma boa hora para Banzé cantar "Another Brick In The Wall", do Pink Floyd. rs

No fim do filme meu querido Banzé acaba também se convertendo para o domestiquismo e desiste dessa ideia linda de ser livre, se apaixona e volta para casa com os pais e a donzela que também entra para a família. É possível ser feliz dentro das regras e das atitudes convencionais? Sim, certamente sim. O que não é aceitável é essa visão de que quem deseja fazer diferente é louco, não será feliz, acabará quebrando a cara e voltando para os pés da sociedade, para se enroscar no tapete em frente a lareira.

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