quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O Genuíno Mundo das Crianças

Ontem minha mãe postou uma foto no Facebook do meu irmão Sam, de 5 anos, usando um par de sapatos que ele escolheu para usar no seu primeiro dia de aula na escola.
Ela tentou explicar para ele na loja que os sapatos foram feitos para garotas. Sam respondeu que não se importava e que “ninjas podem usar sapatos rosa também”.
Sam foi para a escola e recebeu diversos elogios sobre os seus sapatos novos. Nenhuma criança disse algo de negativo sobre eles.
No entanto, minha mãe recebeu cerca de 20 comentários sobre a foto de vários membros da família dizendo o quão "errado" é isso e como "coisas como essa irão afetá-lo socialmente". Minha tia-avó foi ainda mais eloquente dizendo que "essa merda vai transformá-lo em um gay."
Minha mãe apagou a foto da internet e disse ao Sam que ele pode vestir o que ele quiser para ir à escola, que essa é uma decisão só dele. Se ele quiser usar sapatos cor de rosa, ele pode usar sapatos cor de rosa.
Sam, então, explicou-lhe que ele não gostava dos sapatos por eles serem cor de rosa, mas porque eles foram "feitos de zebras" e zebra é o seu animal favorito.
O que dizer de uma sociedade quando um grupo de adultos deveria ter aulas sobre humanidade com uma turma de crianças?

O que você pensa quando olha a imagem acima? Alguns acham estranho, outro sabem que isso não deve ser considerado estranho, mas já estão demasiado enroscados no emaranhado da moral para olhar com completa naturalidade. Mas veja o sorriso da criança, você acha que ele se importa? O Sam gosta de zebras e ele está feliz por estar usando um sapato com estampa do seu animal preferido, e isso é tudo, nada mais. Existem pessoas que gostariam muito de fazer certas coisas, mas muitas vezes não fazem ou fazem escondido porque a sociedade as faz escolher entre ser puramente o que são e ser lapidado para ser aceito.
Com maior idade, usando calçados ou qualquer coisa que é considerado de utilização feminina, ele seria taxado como homossexual pela maioria dos colegas porque estes já teriam sido apresentados e introduzidos as tais "normas" e "padrões". E provavelmente, sendo mais velho, nem ele escolheria um sapato desse para usar, ao menos que por um milagre a sociedade não o tivesse alcançado e explicado para ele o que se deve fazer e o que não se deve fazer para ser aceito.
A família de Sam alertou a sua mãe que a atitude dele, mas principalmente a permissão para tal, poderia afetá-lo socialmente. Ou seja, a mãe deveria moldar o filho para que ele não fosse afetado pela sociedade, cuja moral deveria ser moldada para se encaixar à individualidade e não o contrário. Uma prova de que nós que devemos mudar e não as crianças é que o que é dito "correto" foi criado pelos homens, não é uma verdade absoluta, uma coisa que está implantada na natureza, embora às vezes pareça de tão instintivas que certas regras soam à nossa mente negativamente influenciada. Tudo que é estranho aos nossos olhos assim o é porque nos ensinaram que deve ser, mas para os colegas de Sam, que vivem no genuíno mundo das crianças, a regra é fazer o que parece ser divertido e agradável, e o contrário não faz sentido.
Certamente um mundo repleto de pessoas com mentes livres como a do Sam está distante. Pode parecer utópico querer que todos pensem assim um dia, mas é justamente esse querer que faz dessa realidade distante e não utopia. É extremamente difícil para uma pessoa que já foi corrompida voltar a pensar como uma pessoa livre, arrisco-me a dizer que seja impossível. Provavelmente nem os nossos filhos, mesmo com toda instrução que possamos dar, estarão imunes, -- isso por conta dos outros agentes de socialização --, mas podemos procurar expandir nossa mente e, assim, ficar cada vez menos amarrados a isso.
Sabemos como as coisas devem parecer, deveríamos ver apenas um sapato rosa de zebra, mas o que vemos é o que nosso cérebro grita -- em algumas mentes mais baixo -- dizendo que aquelas duas coisas não se "encaixam". Estamos em uma Matrix e o primeiro passo para sair dela é acreditar nisso, olhar para as coisas e saber que aquilo não existe, que a verdade é outra, que não existe nada demais em fazer o que se gosta, ser o que se é, afinal de contas, ninjas também podem usar sapatos cor-de-rosa.

2 comentários :

  1. Maravilhoso. Esse post simplesmente me tocou, bem lá no fundo.
    Fico até meio triste, pois eu nunca quis estar presa nesse pensamento da sociedade, até porque nem eu mesma ligo de sair diferente... vivo usando roupas do meu irmão mais velho emprestadas ;u;(e já saí com elas)
    Mas como disse, isso é uma coisa que não se deveria criticar, pois há felicidade dentro, bem no fundo disso tudo.
    Acho que o melhor mesmo, é ignorar essa mente estúpida dentro de nós.

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    1. Fico muito feliz que o post tenha te tocado profundamente, Kiyuu, assim sendo, meu propósito foi alcançado! Espero que ele tenha tocado outras pessoas também.
      Exatamente, e se há felicidade e pureza não vejo nada de feio e repugnante nisso, não deve ser criticado, mas sim imitado.
      Isso!, ignorá-la a ponto dela desistir de nos importunar e começar a enfraquecer.
      Beijos, obrigada pela visita e por estar nos acompanhando!

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